Ângela Duarte
Você já ligou o rádio e se deparou com uma música recém-lançada mas que você jura que já ouviu antes? Possivelmente, essa música tem elementos “sampleados” em sua composição. A técnica, que consiste no recorte de trechos de músicas existentes para reutilizar em novas composições, existe desde a década de 1940, mas foi com o surgimento da cultura hip-hop no final dos anos 70 e começo dos 80 que a arte de “samplear” caiu no gosto dos produtores musicais.
Hoje em dia é difícil encontrar uma música que não beba de outras fontes. Desde um simples arranjo melódico à batida de um refrão famoso, o “sampling” é uma ferramenta comum nos estúdios do Brasil e do mundo. No dia da Propriedade Intelectual (26 de abril), conversamos com a beatmaker Arizera sobre a importância dessa técnica para a música, e o que o diferencia do plágio.
Na tradução literal do inglês, sample significa amostra. “Sample, pra mim, é o pedaço de uma música em outra música”, explica Arizera. O sample é acobertado pela lei quando são dados os devidos créditos ao artista criador, sem prejudicá-lo ou atrapalhar sua obra. Além disso, o autor original, quando a música não for de domínio público, deve ser remunerado nas vezes que a música que contém o sample for tocada. Essa remuneração é o que conhecemos como royalties.
Mas, se engana quem pensa que samplear é uma coisa de produtores preguiçosos. Reciclar um pedaço de uma música para transformá-la em algo diferente e conquistar um novo público requer muito jogo de cintura. “Requer uma criatividade muito grande para replicar esses instrumentos de uma forma interessante”, conta Arizera.
Também existe a possibilidade de um produtor “fazer” um sample, e vender para diversos músicos, que, a partir dele, criam novas composições. Arizera é adepta desse tipo de sample: “eu uso nas minhas produções alguns samples, mas não costumo samplear de outras músicas”. É por isso que às vezes nos deparamos com uma mesma batida ou um mesmo riff, em mais de uma música. Geralmente, esse tipo de sample é algo tão curto e tão específico que passa despercebido aos ouvidos leigos.
Plágio: o sample que é crime
Muitas pessoas confundem sample com plágio. Como já foi explicado, a primeira é uma técnica que consiste na reutilização e reformulação de pedaços de uma música em outra produção, com autorização e créditos ao autor original. “Geralmente o plágio é a réplica de uma parte importante e marcante da música” sem autorização, como explica Arizera, ou mesmo o uso de um instrumental completo com a alteração da letra, apenas.
A lei brasileira considera o plágio como crime de roubo de propriedade intelectual. A pena para esse crime é de multa ou detenção de três meses a um ano, de acordo com o artigo 184 do código penal.
Uma das músicas produzidas por Arizera, “Chapadinha com Você”, de Arquiza, usa um trecho sampleado da da ópera “O Barbeiro de Sevilha” de Rossini. Apesar da semelhança não ser óbvia, graças ao trabalho de remix de Arizera e os demais produtores, você pode comparar as duas músicas abaixo: