Laura Moura
Hoje (05), o Sarau Anayde Beiriz retorna para a sua edição de 2024, um evento repleto de música, poesia e arte. Realizado pela Confraria de Malagrida, a ação acontece Rua Gabriel Malagrida, a já conhecida Escadaria de Malagrida, e inicia às 16:30h. Entre as suas atrações estarão presentes nomes como Ana Almeida, Rui Leitão, Leila Oliveira e muito mais. Além dos lançamentos imperdíveis da Feira Literária, como Diálogos de Folha&Corda do potiguar Roland Cirilo, o sarau contará apresentações artísticas, bancas de comida, entre outras referências do meio sociocultural.
Criada em 2005, a Confraria de Malagrida é um movimento cultural independente localizado no beco da antiga faculdade de direito, o Beco Malagrida. Tombado pelo IPHAN, o lugar é marcado pela história do Brasil colônia, servindo de abrigo para colégios e faculdades durante muitos anos. Conversando com vários setores culturais, o grupo com o estilo vanguardista mais aguçado, continua na luta pela preservação e valorização do beco.
A artista Anayde Beiriz sempre se destacou com suas poesias e produções artísticas nas festividades socioculturais nos anos 20. Entretanto, devido aos acontecimentos políticos da época, nos embates entre João Pessoa e João Dantas, sua história foi apagada no desfecho da tragédia. Agora, a poetisa que tanto admirava e frequentava esses encontros, volta a se destacar na cena paraibana com o sarau feito em sua homenagem, afirmando-a não só como artista, mas ainda como figura feminista de resistência contra a misoginia.
Dentre algumas das novidades deste ano está o potiguar Roland Cirilo com o livro Diálogos de Folha&Corda. Desde cedo apaixonado pela escrita, o autor foi fortemente influenciado pelo pai na paixão pela literatura, mas começou sua jornada somente aos 15 anos, escrevendo poemas inspirados pelo Simbolismo de poetas como Verlaine e Baudelaire. Por muitos anos professor no estado e em universidades, Roland já trabalhou também com revisão, edição de textos, edição de conteúdo, sendo, atualmente, autor na área de Arte (livros didáticos) e História. Ele já escreveu para a Ática, o Positivo, a Poliedro e a FTD, agora segue com sua produção de novos poemas para o lançamento de uma próxima obra marcada também pelo senso crítico e reflexões sobre o tempo.
“Os modernistas também me marcaram muito. Gosto dos poemas que retratam o cotidiano, mas, mesmo nestes, os símbolos (e até um pouco do Surrealismo de Breton) estão sempre rodeando por ali. Gosto de criar poemas com jogos de palavras, com combinações inusitadas, o que os deixa, por vezes, mais abstratos. Eu vejo muito as palavras como possibilidades de pintura, como se estivesse criando uma tela não figurativa. Gosto das ênclises, porque sou meio purista às vezes e tenho dó de algumas construções que perdemos. Procuro resgatá-las um pouco por meio dos poemas, mesmo sabendo que são consideradas por alguns como ‘démodées’”, comenta o autor.
Dividido em 3 partes, o livro de seu lançamento tem um título que remete aos cordéis, uma referência às suas origens nordestinas e admiração pelos artistas tradicionais. Na terceira parte do livro ele desfruta mais a fundo desta perspectiva, muito embora não haja poemas feitos propriamente dentro da estética estrita do cordel. Quanto à primeira, os poemas passeiam por uma esfera sentimental e têm as marcas de um período situado entre 20 e 35 anos, em que se destaca a influência de Gullar e Pablo Neruda.
“É importante considerar que mesmo que essa parte seja constituída de alguns poemas antigos, houve nesses escritos uma completa reformulação, de modo que os poemas foram totalmente reescritos, acrescentados com novos trechos, enfim, editados grandemente”, complementa Cirilo.
Já na segunda parte, há uma mistura de poemas novos (alguns atuais) com poemas antigos. Então, o que une essa parte é a reflexão de cunho filosófico, místico, literário e musical. Além da alusão ao cordel, a última parte é composta de poemas novos, uma fase mais madura poeticamente, com poemas majoritariamente do final de 2019 e início de 2020. Ele reflete também sua desesperança e frustração com a política brasileira nesta última divisão.
“O prefácio foi feito por uma amiga, a Consuelo de Paula, uma grande compositora, com músicas gravadas por nomes como Maria Bethânia e Alaíde Costa. Consuelo tem um trabalho belíssimo na música, com composições que possuem uma poética inerente, fruto do seu trabalho com as palavras, pois, além de musicista, ela é autora de um livro de poemas […] A contracapa conta com um texto escrito pelo poeta paraibano Sérgio de Castro Pinto, um dos grandes expoentes da poesia nacional, que ocupa sem dúvida um importante lugar entre os autores consagrados da nossa literatura”, comenta o poeta.
O Sarau de Anayde Beiriz segue como um evento atemporal, que apesar das lutas, opressões e adversidades enfrentadas diariamente, ressignifica sua dor, transformando-a em arte. Assim, ele segue como um evento imperdível tanto para comunidade artística quanto para os cidadãos pessoenses, como uma forma de conhecer a valorizar a cultura nordestina.