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Na diversa e criativa produção artístico-cultural do povo nordestino, belas e expressivas poéticas textuais e imagéticas formam uma rede simbólica sobre a forte, aguerrida e contestadora
Região que contradiz preconceitos, estigmas e estereótipos seculares

Nossa Região Nordeste, ao longo de sua história, sempre foi alvo de depreciativas projeções simbólicas: lugar de seca, atraso, miséria, dependência, messianismo, indolência, ignorância, cangaço, coronelismo, política oligárquica, crimes de latifundiários nunca punidos, entre outras vicissitudes.
Nas últimas décadas, mesmo que ainda perdurem enunciados de preconceitos, estigmas e estereótipos particularmente, principalmente na política do ódio e da ignorância extremo direitista das redes sociais, destaca-se a mudança da rede discursiva que enaltece o Nordeste em imagético-discursivos com trópico prazeroso para vivências turísticas mediante a atratividade de suas praias e riqueza cultural, qualidade de vida e até mesmo progresso e desenvolvimento econômico.

Contudo, aqui e agora, há o propósito de se homenagear o homem nordestino, em configurações de jornalismo cultural em sua mais pura acepção, que opta por destacar aspectos das artes regionais que historicamente sempre se posicionaram à ideia da “Invenção do Nordeste” em uma escala inferior, mas sim, ao contrário, colocaram-se como atos de resistência, e ainda criações alta beleza e qualidade artística, prosas e poesias textuais e imagéticas sedutoras.

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Toda a identidade social é expressa em diferentes aspectos culturais de um povo, como o sotaque, memórias, costumes, culinária, vivências e demais elementos de sua vida cotidiana, com destaque para as suas produções artísticas, como o teatro, uma atividade artística em constante evolução em diferentes períodos cronológicos no percurso do tempo da humanidade, cujas temáticas quase sempre desafiaram normas e convenções da sociedade de seu momento histórico, com o estímulo ao pensamento crítico, às emoções e à conexão entre o público e as questões apresentadas na dramaturgia da peça encenada.

Os autores e diretores em muitas encenações exploram questões sociais, políticas e culturais de modo a promover a conscientização e a reflexão sobre temas como gênero, poder, identidade, preconceito, xenofobia, violência, entre outros questões de grande interesse, conteúdos historicamente vistos no teatro nordestino ao longo de gerações, por marcar suas temáticas regionais em tempos e espaços atrelados às ações de resistência e em enfrentamento ao poder, colonialismo e exploração do povo.

Por outro lado, o teatro nordestino alcança alta projeção principalmente por desenvolver tramas da cultura popular, tão presentes nas obras emblemáticas de Ariano Suassuna, com identidade, especificidade e enunciados discursos próprios e originais, aspectos presentes em outros nomes de relevância do teatro regional, inclusive contemporâneos, como Everaldo Vasconcelos, Marcélia Cartaxo, Thardelly Lima, Zezita Matos e tantos outros, a exemplo dos componentes da Companhia Boca de Cena, Grupo Teatral Piollin e Grupo Bigorna, entre os demais grupos com trabalhos altamente enaltecidos.Fernando Teixeira, ator, dramaturgo e diretor, reconhecido como o nome vivo mais relevante do teatro nordestino fala desta sua arte em uma visão que também posiciona a região em relação à sua cultura histórica e identidade.

Nascido em Conceição, município do Vale do Piancó, sudoeste da Paraíba, Fernando Teixeira é vencedor de diversos prêmios: melhor ator no Festival Comunicurtas pela atuação em “O Hóspede”, de Anacã Agra e Ramon Porto Mota, além das dezenas de espetáculos encenados – entre eles o “Auto da Compadecida”, “Papa Rabo”, “Anayde, 15 anos depois” e “Fogo Morto”, além de ter atuado em quase 30 produções cinematográficas.

“O teatro me ensinou que a grande pátria de um ator é o palco”

– Fernando Texeira

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Nascido em Conceição, município do Vale do Piancó, sudoeste da Paraíba, Fernando Teixeira é vencedor de diversos prêmios: melhor ator no Festival Comunicurtas pela atuação em “O Hóspede”, de Anacã Agra e Ramon Porto Mota, além das dezenas de espetáculos encenados – entre eles o “Auto da Compadecida”, “Papa Rabo”, “Anayde, 15 anos depois” e “Fogo Morto”, além de ter atuado em quase 30 produções cinematográficas.

Fernando conta que o teatro é uma parte fundamental da sua atividade artística desde a juventude, que tendo começado como um brinquedo de criança, permaneceu como uma ferramenta expressiva com a qual interage com o mundo.

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“O teatro me ensinou que a grande pátria de um ator é o palco, aprendi a conviver com as pessoas independentes de seus lugares de origem, que quando estamos na atividade teatral procuramos nos respeitar em função do que somos como criadores, e sempre estamos em sintonia com o lugar que nos acolhe e, se estou no nordeste do Brasil, os aspectos culturais deste lugar é o que me alimenta.”

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Em especial João Pessoa, que é definida pelo ator como um ponto de conexão: “A cidade de João Pessoa, carinhosamente apelidada de Jampa, localiza-se no centro do antigo supercontinente pré-histórico chamado de Pangea há cerca de 240 milhões de anos. Para verificar isso basta procurar pelo mapa de Pangea na internet. Toda aquela região central do antigo supercontinente é onde hoje se localiza a atual região nordestina do Brasil, por isso acho que ela tem a característica de conectar com a primeira alma do mundo.”

Fernando Texeira afirma que a cultura nordestina antes do Brasil ser Brasil tem a ver com a sua história como terra antiga de Abya Yala, nome com o qual os povos originários designam todo o continente e que significa terra fecunda, pois já havia cultura aqui. O Brasil começou a ser desenhado nesta região, por isso ele diz que todos os brasileiros são também nordestinos, também participam da energia deste DNA que tornou possível toda a nação brasileira.

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“O Nordeste é como um lugar que os seus habitantes, nascidos ou abduzidos, irão carregar por toda a vida, esta é uma terra cuja energia contamina as pessoas com uma pulsação de vida e resiliência, de contemplação e luta pela liberdade e pela beleza. É um lugar que favorece a criatividade, mas também não acho que seja algo para se tratar com o status de uma terra especial, pois todas as fronteiras se diluem e todos os recantos são igualmente importantes”, conta o diretor.

As imagens exibidas durante a matéria são da fotógrafa Gabriela Osoegawa durante a peça “O Testemunho do Cangaceiro”, escrita pelo dramaturgo Chico de Assis e encenada pelos alunos de Teatro da Universidade Federal da Paraíba durante a Semana Cênica de 2023. Conta uma história ambientada no sertão nordestino, mostrando um homem que tenta cumprir uma promessa feita a um falecido, descobrindo no caminho o bem e o mal dentro de si e dos outros.