Naturalidade: Distrito de Palmeira (Imaculada-PB)
Nascimento: 07 de janeiro de 1942// Falecimento: 23 de Julho de 2020 (Crato-CE)
Atividade exercício-profissionais: Agricultor, industriário, carroceiro e vigia
Atividades artístico-culturais: Poeta e cordelista
Luciano Carneiro de Lima foi um poeta cordelista. Nascido em 07 de janeiro de 1942 , no Sítio Guedes distrito de Palmeira, então pertencente ao munícipio de Teixeira-PB e hoje pertencente ao município de Imaculada-PB, sendo um dos 10 filhos de José Carneiro de Lima e Jovita de Pontes Lima. Luciano Carneiro afirmou que já nasceu com o gosto pela poesia. E despertou pelo gosto do seu pai pelos versos de feira, que trazia para casa e lia para a família. O interesse era tanto que o menino com frequência decorava os versos e ainda criança já demonstrava talento com as palavras:
“Quando eu tinha dez anos de idade, eu já fazia um versinho completo, metrificado, já entendia um pouco”, afirmou em entrevista.
Também se interessava pelas cantorias dos repentistas, chegando a viajar pelos sítios com seu pai, para ouvi-los.
O poeta permaneceu em Teixeira até 1958, quando foi para Bodocó-PE.
Aos 16 anos de idade, mudou- se para Crato-CE, cidade onde desenvolveu ainda mais a arte com as palavras enquanto trabalhava com outras funções, como agricultor, carroceiro e vigia. A princípio ele residiu nos sítios Fernando e Gerais, ambos de propriedade do Brigadeiro José Macedo.
Em 1964 casa-se com Luzanira Batista de Lima, nascida no sítio Poço Dantas, também em Crato-CE, com ela teve 13 filhos. Em 1975, Luciano muda-se para a sede do município. A partir daí veio o reconhecimento de sua poesia, quando começou a divulgar suas obras no programa Coisas do Meu Sertão.
Seus estudos regulares se resumiram ao curso de Alfabetização Solidária, feito no ano de 2002.
” Gostei de ser estudante, é muito bom estudar se vê como a cada instante uma estrela brilhar em um novo firmamento, no céu do conhecimento, você fica destacado. É mesmo maravilhoso, me sinto muito orgulhoso em ser alfabetizado.” destacou em entrevista para a revista “O Povo Cariri”.
Na vida literária, foi poeta e cordelista. Foi Mestre da Cultura Tradicional Popular do Ceará, título concedido pela Secretaria de Cultura do Estado em 2 de dezembro de 2008. Foi também membro fundador da Academia dos Cordelistas do Crato (desde 1991), lá chegou a exercer as funções de presidente e vice-presidente e ocupou a cadeira de n° 2. Só nessa instituição teve 46 cordéis editados e impressos. Luciano também era Membro do Instituto Cultural do Cariri, em Crato-CE. Lançou ainda o livro “Onde Mora a Poesia”, aos 75 anos. Luciano Carneiro de Lima faleceu em Crato-CE, dia 23 de Julho de 2020, vítima da Covid-19.
Cordel “O Burro e o Deputado” de autoria de Luciano Carneiro:
O BURRO E O DEPUTADO
O deputado e o burro
Tão num impasse danado
Vão findar trocando murro
O burro e o deputado
O burro quer trabaiá
O dotô num qué deixá
Diz que a carroça é pesada
Porém o burro enfezado
Diz que não é deputado
Pra ganhar sem fazê nada.
O burro inda diz assim
Eu trabaio pro meu patrão
Mais ele mim dá capim
Mim dá remédio e ração
Dá água bãe e vacina
E só me aprica disciprina
Quando invento bestêra
E você, seu deputado
Ee fosse disciprinado
Agia douta manêra.
Burro, cavalo e jumento
Tem mais é que bataiá
Se for no seu argumento
De vivê sem trabaiá
De disprezá o seu dono
Lhe deixá no abandono
Eles vai tranca o roçado
Tem razão, que a roça é sua
E joga nóis no mei da rua
Pra morrê atropelado
E será se essa tá
De proteção dos animais
Tem roçado, tem quintá
Cum água e cum capinzais?
Pra nóis vivê só cumeno
Bebeno água e correno
Tudo gordo e bem zelado
Viveno uma vida incrive
Iguá a que o senhô vive
Na câmara dos deputado?
Será que os dono da gente
Tem a merma opinião?
Que tem o seu presidente
O chefe dessa nação
Que cobra imposto danado
Do pobre lá do roçado
Do piqueno comerciante
Pra todo finá de mês
Pagá um montão pra vocês
Só pruquê são importante?
Eu num reparo o sinhô
Sê dotô, seu deputado
Esquecê seus inleitô
Que veve disagregado
Ou trabaiano na roça
Ou mermo nu’a carroça
Cuma meu patrãozim faiz
Tentano sobrevivê
Mas deixe de meter
Na vida dos animais.
Vá criá projeto novo
Vá cuidá doutos assunto
Fazê morada pro povo
Vá douto, fazê conjunto
Vá ajeitar as estrada
Que tão tudo esburacada
Dão má pra gente passá
Ou então fique parado
Ganhano seu ordenado
Mais deixe nóis trabaiá.
Parece que o sinhô
É mais burro do que eu
Que diabo é isso douto
O que foi que aconteceu?
E o pobe do deputado
Oiô pro burro ispantado
Sem tê o que respondê.
Findô falano pro burro:
– Se você me dé um murro
Eu dô um coice in você.
*
Simone Eliz
Fontes:
http://cordeldesaia.blogspot.com/2013/01/o-burro-e-o-deputado.html
Pesquisador: José Paulo Ribeiro, e-mail: zepaulocordel@gmail.com