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Data de publicação do verbete: 15/02/2021

Luciano Carneiro

Poeta e cordelista 
Data de publicação: fevereiro 15, 2021

Naturalidade: Distrito de Palmeira (Imaculada-PB)

Nascimento: 07 de janeiro de 1942// Falecimento: 23 de Julho de 2020 (Crato-CE)

Atividade exercício-profissionais: Agricultor, industriário, carroceiro e vigia

Atividades artístico-culturais: Poeta e cordelista

Luciano Carneiro de Lima foi um poeta cordelista. Nascido em 07 de janeiro de 1942 , no Sítio Guedes distrito de Palmeira, então pertencente ao munícipio de Teixeira-PB e hoje pertencente ao município de Imaculada-PB, sendo um dos 10 filhos de José Carneiro de Lima e Jovita de Pontes Lima. Luciano Carneiro afirmou que já nasceu com o gosto pela poesia. E despertou pelo gosto do seu pai pelos versos de feira, que trazia para casa e lia para a família. O interesse era tanto que o menino com frequência decorava os versos e ainda criança já demonstrava talento com as palavras:

“Quando eu tinha dez anos de idade, eu já fazia um versinho completo, metrificado, já entendia um pouco”, afirmou em entrevista.

Também se interessava pelas cantorias dos repentistas, chegando a viajar pelos sítios com seu pai, para ouvi-los.

O poeta permaneceu em Teixeira até 1958, quando foi para Bodocó-PE.

Aos 16 anos de idade,  mudou- se para Crato-CE, cidade onde desenvolveu ainda mais a arte com as palavras enquanto trabalhava com outras funções, como agricultor, carroceiro e vigia. A princípio ele residiu nos sítios Fernando e Gerais, ambos de propriedade do Brigadeiro José Macedo.

Em 1964 casa-se com Luzanira Batista de Lima, nascida no sítio Poço Dantas, também em Crato-CE, com ela teve 13 filhos.  Em 1975, Luciano muda-se para a sede do município. A partir daí veio o reconhecimento de sua poesia, quando começou a divulgar suas obras no programa Coisas do Meu Sertão.

Seus estudos regulares se resumiram ao curso de Alfabetização Solidária, feito no ano de 2002.

” Gostei de ser estudante, é muito bom estudar se vê como a cada instante uma estrela brilhar em um novo firmamento, no céu do conhecimento, você fica destacado. É mesmo maravilhoso, me sinto muito orgulhoso em ser alfabetizado.”  destacou em entrevista para a revista “O Povo Cariri”.

Na vida literária, foi poeta e cordelista. Foi Mestre da Cultura Tradicional Popular do Ceará, título concedido pela Secretaria de Cultura do Estado em 2 de dezembro de 2008. Foi também membro fundador da Academia dos Cordelistas do Crato (desde 1991), lá chegou a exercer as funções de presidente e vice-presidente e ocupou a cadeira de n° 2.  Só nessa instituição teve 46 cordéis editados e impressos.  Luciano também era Membro do Instituto Cultural do Cariri, em Crato-CE. Lançou ainda o livro “Onde Mora a Poesia”, aos 75 anos.  Luciano Carneiro de Lima faleceu em Crato-CE, dia 23 de Julho de 2020, vítima da Covid-19.

Cordel “O Burro e o Deputado” de autoria de Luciano Carneiro:

O BURRO E O DEPUTADO

O deputado e o burro

Tão num impasse danado

Vão findar trocando murro

O burro e o deputado

O burro quer trabaiá

O dotô num qué deixá

Diz que a carroça é pesada

Porém o burro enfezado

Diz que não é deputado

Pra ganhar sem fazê nada.

O burro inda diz assim

Eu trabaio pro meu patrão

Mais ele mim dá capim

Mim dá remédio e ração

Dá água bãe e vacina

E só me aprica disciprina

Quando invento bestêra

E você, seu deputado

Ee fosse disciprinado

Agia douta manêra.

Burro, cavalo e jumento

Tem mais é que bataiá

Se for no seu argumento

De vivê sem trabaiá

De disprezá o seu dono

Lhe deixá no abandono

Eles vai tranca o roçado

Tem razão, que a roça é sua

E joga nóis no mei da rua

Pra morrê atropelado

E será se essa tá

De proteção dos animais

Tem roçado, tem quintá

Cum água e cum capinzais?

Pra nóis vivê só cumeno

Bebeno água e correno

Tudo gordo e bem zelado

Viveno uma vida incrive

Iguá a que o senhô vive

Na câmara dos deputado?

Será que os dono da gente

Tem a merma opinião?

Que tem o seu presidente

O chefe dessa nação

Que cobra imposto danado

Do pobre lá do roçado

Do piqueno comerciante

Pra todo finá de mês

Pagá um montão pra vocês

Só pruquê são importante?

Eu num reparo o sinhô

Sê dotô, seu deputado

Esquecê seus inleitô

Que veve disagregado

Ou trabaiano na roça

Ou mermo nu’a carroça

Cuma meu patrãozim faiz

Tentano sobrevivê

Mas deixe de meter

Na vida dos animais.

Vá criá projeto novo

Vá cuidá doutos assunto

Fazê morada pro povo

Vá douto, fazê conjunto

Vá ajeitar as estrada

Que tão tudo esburacada

Dão má pra gente passá

Ou então fique parado

Ganhano seu ordenado

Mais deixe nóis trabaiá.

Parece que o sinhô

É mais burro do que eu

Que diabo é isso douto

O que foi que aconteceu?

E o pobe do deputado

Oiô pro burro ispantado

Sem tê o que respondê.

Findô falano pro burro:

– Se você me dé um murro

Eu dô um coice in você.

*

Simone Eliz

Fontes:

http://cordeldesaia.blogspot.com/2013/01/o-burro-e-o-deputado.html

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/morre-o-poeta-e-cordelista-luciano-carneiro-por-covid-19-1.2969748

Pesquisador: José Paulo Ribeiro, e-mail: zepaulocordel@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

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